terça-feira, 25 de março de 2008

"A Benção de Adoecer"

“Mas, que posso dizer? Ele falou comigo e ele mesmo fez isso. Andarei humildemente toda a minha vida por causa dessa aflição da minha alma. Senhor,por tais coisas os homens vivem, e por elas também vive o meu espírito.Tu me restauraste a saúde e me deixaste viver. Foi para meu benefício que eu tanto sofri...” (Is 38.15-17ª NVI).

Estamos acostumados a celebrar a bênção da saúde, pois saúde é coisa boa. Saúde: é bom estado do organismo cujas funções fisiológicas se vão fazendo com regularidade e sem estorvos de qualquer espécie; saúde é harmonia, equilíbrio, alegria, enfim.
Mas a realidade é que muitas vezes vemos a saúde fugir; órgãos importantes apresentam problemas e aspectos e funções vitais de imenso valor são seriamente prejudicados. Adoecemos. Adoecemos, com maior ou menor gravidade, na infância, na adolescência, na idade adulta e principalmente na velhice. Às vezes a proximidade da doença é anunciada, e podemos até preveni-la ou atenuar-lhe as conseqüências. Outras vezes, a doença é repentina e fulminante.
Pois bem.
Qual é a nossa atitude em relação à doença? É evidente que ela altera ou perturba nossa vida e atropela nossos planos, sonhos, e vontade imensa de viver com qualidade.
À semelhança do rei Ezequias, e de minha experiência na mais recente hospitalização, quero convidar o leitor a refletir comigo sobre A BÊNÇÃO DO ADOECER.
Como notamos no texto de Isaías, acima reproduzido, disse o rei, depois de sua grave doença e da intervenção divina a prolongar-lhe os anos de vida: “Foi para meu benefício que eu tanto sofri”.
Que bênçãos, que descobertas positivas para existência humana recebemos ou deparamos na doença? É o que desejo lembrar e assinala, sem pretender exaurir o tema.

1.Quando adoecemos, descobrimos nossa finitude e humanidade. Não podemos tudo, não conseguimos fazer tudo o que queremos, interrompem-se nossos projetos, alteram-se nossos planos, damos-nos conta de que com saúde nos julgávamos necessários e até insubstituíveis; só que descobrimos, num leito de enfermidade, que o mundo não pára, a vida continua e às vezes nossos empreendimentos ou negócios chegam até a produzir mais.

2.Quando adoecemos, tomamos consciência da unidade e solidariedade da raça humana. Sim. Fazemos parte de uma humanidade pecadora, passível de adoecer e de transmitir de geração em geração doenças ou potencial delas que freqüentemente nossa indisciplina precipita que venham a aparecer. É o caso da cardiopatia de minha avó e de minha mãe que me dispôs a problemas cardiológicos com que venho padecendo há quase quinze anos. Espinho na carne com que tenho de conviver. Pena que tenha herdado muito mais os defeitos que as virtudes do coração delas!

3.Quando adoecemos, descobrimos que todos somos iguais: pobres e ricos, grandes e pequenos, homens e mulheres, doutores ou analfabetos, palacianos ou gente de rua, santos e pecadores. Todos adoecemos ou podemos adoecer. No leito da enfermidade, descobrimos a tolice do orgulho, da vaidade, da pretensão humana, da mania de grandeza. E do leito, saímos mais humanos e humildes. E não isso uma bênção?

4.Quando adoecemos, aprendemos “experiencialmente” a natureza relacional e interdependente do ser humano, e o valor da gentileza, da simpatia, do bom humor, da paciência. Pensávamos, quando saudáveis, não precisar de ninguém, não depender de ninguém, que dinheiro era capaz de adquirir todo bem estar, todo prazer, toda felicidade. Doentes, em leito hospitalar luxuoso ou singelo, rodeados de gente altamente capacitada e profissionalmente competente, ou de gente simples, nós nos damos conta de que precisamos dessas pessoas, dependemos delas, temos de tratá-las bem. Em troca, recebemos o carinho e o cuidado delas. E como é bom ver médicos, enfermeiros e enfermeiras e todo pessoal hospitalar, a trabalhar feliz e com diligência para nos prover bem estar, alívio de nossas dores ou desconforto e recuperar nossa saúde ou nossa esperança!

5.Quando adoecemos, verificamos a importância da família e do amor e cuidado que nos devota. Às vezes, parentes que não víamos fazia anos, comparecem em nosso quarto de hospital ou em casa, trazendo novo alento e razão para viver. Até reconciliação entre parentes desavindos ocorre durante nossa enfermidade, e só vamos saber depois. Como é bom ter família e ser família. Mas também, enfermos, descobrimos o valor de nossos amigos, de perto ou de longe, que nos levam carinho e solidariedade.

6.Quando adoecemos, recebemos consolações novas e novos insights da Palavra e Deus, se somos crentes em Jesus Cristo, tementes a Deus e acostumados a manejar a Bíblia, o Santo Livro. O leito de enfermidade constitui privilegiado lugar de meditação nas grandes verdades da fé, antes apenas parte de nosso discurso religioso. Ali somos consolados por Deus e nos tornamos fontes de consolação. É verdade.
A doença acaba abrindo espaços e cavando abismos em nossa vida que a graça divina vem preencher. No leito, ouvimos a promessa divina, como Paulo outrora: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Consolados e fortalecidos, mesmo com o corpo abatido e maracado pela dor, passamos a ser agentes de consolação, de paz e esperança no hospital. Chego à conclusão de que um verdadeiro cristão, doente e internado num hospital, acaba se tornando ali uma bênção para profissionais da saúde e companheiros de sofrimento ou tratamento.

7.Quando adoecemos, verificamos a bondade de Deus ao prover multiplicidade de dons, talentos e aptidões humanas no hospital, clínica ou pronto socorro em que nos encontramos. Juntos, cada qual com seu conhecimento, sua técnica, seus instrumentos, a cuidar de nós. Como nos sentimos importantes e também descobrimos quão importantes são todos esses profissionais da saúde que atuam como integrantes de uma grande orquestra, a abençoar e celebrar a vida!
Nossa doença, complexa ou simples, permite o ensaio ou execução de todas as técnicas e formas de cuidado humano em relação às enfermidades humanas. Esse ensaio ou execução se tornam tanto mais eficazes quanto mais motivados movidos pelo amor à arte de cuidar e principalmente às pessoas.

8. Quando adoecemos, baixamos “nossa guarda”, como numa luta de boxe quando o lutador se sente extenuado e prestes a entregar os pontos. Gente que se diz atéia, agnóstica, inimiga de Deus, hostil aos crentes, mostra-se muito mais acessível, carente e pronta a pedir orações aos que dela se acercam.Estou persuadido de que dos hospitais e centros de saúde costumam sair mais pessoas reconciliadas com Deus, prontas para viver feliz ou morrer em paz, do que dos próprios templos religiosos. A doença nos apequena, quebranta e oferece oportunidade à graça consoladora do Evangelho!

9. Quando adoecemos, e levados para pronto socorro, hospital ou clínica especializada, descobrimos que existem outras pessoas com problemas iguais ou maiores do que os nossos. Com elas conversando, somos animados ou animamos, recebemos alento ou alentamos, sorrimos ou choramos. Descobrimos que somos gente como toda gente! E ao comparar com o nosso os fardos de enfermidade dos outros, muita vez ficamos agradecidos, porque o nosso é muito menor; ou, então, comovidos e prontos a interceder, porque o de nosso irmão é bem maior!

10.Quando adoecemos, descobrimos as dimensões das mãos de Deus, através das mãos humanas. Em verdade, nos damos conta de que as mãos hábeis e generosas de homens e mulheres, profissionais da medicina ou simples auxiliares que nos servem um pequeno lanche, um copo d’água ou limpam nosso quarto ou nosso leito, constituem extensão das mãos de Deus. Olhando bem, essas pessoas constituem anjos a rodear-nos e a mediar a bênção, a paz, a saúde ou a esperança com que sonhamos!

Repito com Ezequias, depois de várias experiêencias de adoecer e ser hospitalizado, e submeter-me a sérias intervenções cirúrgicas:

“Senhor, por tais coisas os homens vivem, e por elas também vive o meu espírito.Tu me restauraste a saúde e me deixaste viver. Foi para meu benefício que eu tanto sofri...”

Irland Pereira de Azevedo.

17 comentários:

Gilberto Mynssen Ferreira disse...

Brilhante texto, fala por si. Deus o abençoe, meu pastor, e continue a usá-lo para nos fazer lembrar que devemos, através da maneira de ser, viver para o louvor da glória da graça do Senhor. Deus seja louvado pelo seu testemunho. Saúde!

Pastor Irland disse...

Sempre bom ouví-lo e meditar na grandeza de Deus e a dependência de seu servo , se suas notícias me preocupam , posso dizer que me alegra e conforta saber de sua profunda e exemplar comunhão com Deus , que confesso , não deve ser pecado invejar .
Um abraço .
Arnaldo P. Secomandi

Unknown disse...

É um texto riquíssimo, pois mostra a Palavra de Deus viva, aplicada às circunstâncias de sua vida, papai.
Louvado seja Deus pela sua vida tal qual nos é testemunhada: que sempre honra a Deus, que evidencia uma fé firme, que converte em palavras e ações as suas reflexões sobre a realidade dura deste mundo, mensagens de fé e de viva esperança.
Um abraço,
Daniel Teixeira de Azevedo

Unknown disse...

Meu amado Pr. Irland,

Maravilhosa a reflexão. Como sempre acontece ao meditar em suas palavras, o texto renovou ainda mais a minha fé, confirmando, por sua própria experiência, que adoecer também pode se tornar uma grande Bênção na nossa vida. Que possamos entender, como Paulo, que nossa força é proporcional a nossa dependência de Deus. (...Porque quando estou fraco então sou forte. - 2Co 12:10). Que Deus continue a lhe abençoar com mensagens como essa.

Anônimo disse...

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Públio Azevedo disse...

meu querido irmão, pastor, amigo a distancia, professor e mentor em Cristo!! Que a graça do Pai continue exercendo em sua vida, esta sabedoria no escrever, no falar e no viver.. continuo sendo abençoado por ti, mesmo após 4 anos de conclusão de meu curso! a distancia não tem impedido o teu ministério em minha vida! glorias a Deus por sua vida! fico feliz em tua vida abençoada, e de ti, carregar ao menos um nome!!! abçs

Unknown disse...

Pastor:
Foi edificante para mim ler seu texto;o senhor continua sendo uma benção na minha vida com as suas reflexões.
Abraços
Nilza

Anônimo disse...

Caro Pastor Irland, o relato da sua experiência hospitalar, coincide em muitos pontos com a experiência que vivi: a) o reconhecimento da nossa fragilidade; b) os cuidados de Deus para conosco; c) em 10 dias de internação hospitalar, sendo 5 dias de UTI (infarto do miocárdio), a minha experiência com Deus suplantou os meus 42 anos de vida cristã; d)todas as atenções dos médicos, dos familiares e principalmente, as orações de meus amigos e irmãos da igreja (ovelhas que Deus me pertiu assistir), certamente, moveram o coração do Pai!
O mais importante: o aviso celeste, "Põe a tua casa em ordem... Já experimentei o OITAVO CATETER, CERTO DE QUE EM NENHUM MOMENTO ESTIVE SÓ. Fui assistido pelo Médico dos médicos, porisso, posso sentir a verdadeira sensação de ser um servo do Deus Altíssimo.
Os mesmos passos, as mesmas sensações, os mesmos cuidados.
Deus seja louvado! O seu testemunho veraz, serve de alento para todos nós.Deus continua respon dendo as nossas orações.
Amém!
Pr.Abel Pereira de Oliveira

Valtencir Alves disse...

Olá Pr. Irland... Parabéns pelo blog e pela excelente reflexão. Como professor sempre foi esclarecedor e no blog continua abençoando. Aproveito para convidar-lhe a visitar o meu blog - doutorhermeneutica.blogspot.com

Abraços Fraternos,

Unknown disse...

Que bom ler este texto e quanto bem está fazendo por mim.
Fala a pura e simples verdade sobre adoecer. Que Deus continue abençoando o colega muitissímo!!!

Unknown disse...

Pastor
Conforme lhe falamos a pouco, aqui na PIBC Campinas - SP,li o seu texto. Eu e Maria Jose estamos orando pelo Sr. e Pela Sra. Zila.Que DEUS lhe conceda muitas bençaos, a sua apresentação foi marcante para as nossas vidas.
Agradeço pelo carinho, e lembro do Sr. colocar em sua oração meu filho, Gustavo Amaral.
Um forte abraço
William Carvalho PIBC

Derly Jean Aniceto disse...

maravilhoso!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Sempre ouvi falar do Pastor Irland, através de meus avós (Tércio e Léa) e como se emocionavam com suas pregações na primeira igreja batista de São Paulo e depois de ler suas mensagens no blog, um instrumento de comunicação tão atual, me emociono também, não só por lembrar deles, mas pela benção que é a vida do Pastor e sem mesmo me conhecer, influenciar na minha vida, através das pregações lá de antigamente, que minha família sempre lembrou.
Abraços
ENRICO DE OLIVEIRA

Pr. Alexandre Caroni disse...

Pr. Irland,
Como vai? Creio que sempre bem com Cristo nosso Senhor. Venho lhe pedir seu texto "A Maçonaria e Eu", o link postado no Vigiai não nos permite baixar o texto. Desde já lhe agradeço a atenção. PS. Usei seu blog por não ter seu Endereço eletrônico.

Pr. Alexandre Caroni disse...

O irmão poderia nos disponibilizar o seu texto "A Maçonaria e Eu"? desde já agradeço a atenção. Fique com Deus.

Ana Clo Thome Williams disse...

Pastor Irland, querido!! Eu náo sabia que o senhor estava por Chicago. E'uma alegria encontrar seus textos. Maior alegria será a de encontrá-lo se pudermos.
Com saudade, Ana Clotilde Thome e familia!
(anatwilliams@gmail.com)