quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Onze de Setembro 2001 - Seis anos depois

Amigos:
Recebi hoje à tardinha o texto de David Gushee, professor de Ética Cristã na Mercer University, a propósito do 11 de Setembro cujo 6º aniversário com tristeza foi hoje lembrado.
Por isso, e pela seriedade do texto, quero compartilhá-lo com os leitores em meu blog. Suas idéias merecem ser repensadas neste 11 de setembro. Irland.
11 SET 2007 – Tradução: Opinião - David Gushee - 9/11

Esta coluna é publicada no sexto aniversário dos impensáveis ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos. Esses ataques foram os mais hediondos atos terroristas já concebidos neste país. Estaremos por um bom tempo pranteando nossas perdas, especialmente as famílias que perderam seus entes queridos. Todos nós deveríamos inclinar nossas cabeças hoje em contrição e solidariedade com aqueles que mais sofrem esse luto.

Mas existe outra razão para inclinarmos nossas cabeças hoje. Até agora parece claro que nossa reação, como nação, a esses ataques tem causado mais mal do que bem. Precisamos ser capazes de conversar racionalmente sobre isso, ainda que em luto, constante ira e temor. Minhas críticas não são dirigidas unicamente à administração de Bush. Outras instâncias administrativas têm falhado. Nossa nação como “um todo” tem falhado. O problema é cultural, não apenas questão de regras ou de política. Cristãos e líderes de igrejas têm muito a responder. Seis anos após 11 de setembro nossa nação é menos segura, menos poderosa, menos livre, menos respeitada, menos democrática, menos constitucional e menos confiável do que éramos naquela manhã ensolarada, clara e terrível.

Nossa nação está menos segura, em parte, porque nossas forças armadas se meteram num pântano numa situação difícil no Iraque, em guerra que jamais devia ter começado, e que até o momento já custou a vida de mais de 3.700 soldados e 450 bilhões de dólares. Nossas tropas estão exauridas pelas várias incursões e missões em terreno hostil, nosso equipamento está desgastado, e nossas forças armadas estão extremamente indisponíveis para qualquer outro propósito fora do Oriente Médio. Recursos humanos e financeiros que poderiam e deveriam ser usados para encontrar Osama Bin Laden e proteger os Estados Unidos seriamente contra outros ataques como os de 11 de setembro (sem mencionar prioridades internas), estão erroneamente sendo desperdiçados no Iraque.

Nossa nação está menos poderosa por conta de nossa fraqueza militar, declínio de nossa posição econômica e perda do respeito internacional. Em muitas partes do mundo somos vistos como maior ameaça à paz, mas do que o próprio Osama. Nossa decisão de ir à guerra no Iraque sem bases adequadas e ao arrepio da opinião pública internacional feriu grandemente nossa posição global. Desse modo, quando empreendemos a guerra, as conseqüências não foram trágicas somente para nossas tropas mas também para o povo iraquiano, tornando o problema ainda pior. Nós nos enfiamos no país dos outros, rompemos sua ordem social ao custo de 70.000 vidas iraquianas até agora. Nunca pedimos desculpas por isso ou por fazê-lo da forma que fizemos.
Os centros de tortura no Iraque, Afeganistão e em diversas outro lugares danificaram nossa posição moral, especialmente no mundo árabe. Longe de ser produto de algumas maçã podres, agora está claramente documentado que o que acontece em lugares como Abu Ghraib (local da tortura) resulta em grande parte de decisões políticas governamentais que percorreram toda a cadeia de comando. Muitos atos têm sido oficialmente ou extra-oficialmente repudiados publicamente quando expostos, mas a CIA permanece autorizada a conduzir “interrogatórios não ortodoxos” e nunca foi totalmente relatado o alcance ou objetivo desses interrogatórios ilícitos nos últimos seis anos.
A vigilância oficial e as buscas entre os cidadãos norte-americanos em nosso próprio solo cresceram de tal maneira que nem conseguimos compreender. A vigilância eletrônica e buscas diretas expandiram por decisão do poder executivo do país. Os esforços para compreender o que está acontecendo deixa solitário o debate sobre como devam ser as práticas legais, debates estes que são constantemente obstruídos pelo recurso constante do “segredo de justiça” ou “segurança nacional”, à discrição do próprio governo.
A Baía de Guantamo mantém presos centenas de estrangeiros indefinidamente e sem julgamento. O Congresso ano passado, juntamente com o Military Commissions Act negou qualquer direito de habeas corpus para os que lá se encontram presos. Em essência, nosso governo está livre para trancafiar pessoas em qualquer lugar no mundo e prendê-las indefinidamente, nessa “região franca de lei”. As provisões legais inventadas para julgar tais pessoas, quando vier o momento, são incapazes de prover as devidas proteções legais existentes em nossa Constituição.O poder legislativo tem falhado de forma completa ao vigiar os piores excessos do executivo. O judiciário tem agido de alguma forma melhor, mas as rodas da justiça ainda se movimentam muito lentamente. A opinião pública tem provado ser extremamente susceptível à decepção, demagogia e alarmante fraqueza no que diz respeito ao compromisso com a democracia constitucional. Nós tomamos nossas liberdades por asseguradas, mas estamos em vias de perdê-las.

E a Igreja? Em geral, às igrejas americanas tem faltado independência política, discernimento, e coragem de ao menos entender e propagar o que tem acontecido de errado. Ao contrário deixam as coisas como estão. Uma igreja “domesticada” tem sido contratada como “serva do Estado”, até o ponto de defender a tortura.Parece-me que o 11 de setembro desestruturou nossa nação e dolorosamente nos lançou num errôneo caminho. Mas as igrejas americanas detêm considerável responsabilidade por sua inabilidade em se posicionar firmemente na sólida pedra fundamental: Jesus Cristo, em meio a essa tragédia. Eis mais uma razão para inclinarmos nossas cabeças em contrição por 11 de setembro.

* David Gushee é PhD, ilustre professor de Ética Cristã na Mercer University, EUA. Fonte: ABPNews, Sep 11, 2007.

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