sexta-feira, 14 de setembro de 2007

VITÓRIA DE PIRRO

Pirro de Epiro (319-272 a.C.), noroeste da Grécia, foi um aventureiro de muita coragem e espírito empreendedor que se dizia descendente de Neoptolemus. Pirro levou a cabo uma série de campanhas contra a Macedônia, e depois foi chamado a ajudar cidades gregas do sul da Itália e Sicília na luta contra o poder de Roma que se expandia.
Em 279 ele derrotou os romanos em Asculum, Apulia, porém com perdas tão pesadas em seu próprio exército que a expressão “vitória de Pirro” passou a ser proverbial, para referir a pessoa que alcança uma vitória a um custo muito elevado. Interessante que quatro anos depois de seu feito, Pirro foi forçado a deixar a Itália e a voltar à Grécia onde morreu em Argos, num combate de rua.
Pois bem. Ao conhecer a decisão do Senado Federal, absolvendo o Senador Renan Calheiros, em sessão secreta e votação secreta, com 40 votos a seu favor, 35 contrários e 6 abstenções, a sensação que me assomou, em relação ao Presidente do Senado, foi de uma vitória de Pirro.
Sim. As perdas sofridas foram muito maiores do que os ganhos, com essa histórica e formidável decisão do Senado.
Perdeu o Senador, por sua atitude pirrônica (palavra que minha mãe usava quando queria dizer que eu era teimoso ou obstinado), autoridade para o exercício de seu cargo e cumprimento de seu mandato como representante do estado de Alagoas. Ele tem, de certo, autoridade legal para presidir e atuar como senador, mas lhe falece autoridade moral para continuar em seu cargo e suas funções.
Perdeu o Senado, que se acovardou a declarar falto de decoro parlamentar o seu Presidente, fazendo crescer de maneira vertiginosa seu descrédito perante a opinião pública.
Perdeu o povo brasileiro a oportunidade de ver punido quem não soube honrar devidamente seu cargo e seu mandato. À luz dos fatos que lhe foram trazidos ao conhecimento, o povo esperava uma decisão exemplar da Câmara Alta do Congresso Nacional.
Perdeu toda a classe política, ainda mais, a confiança e o apreço da Nação que vê impunes os que têm sido acusados, com evidências incontrovertíveis, de desonestidade e malversação dos recursos do povo brasileiro. Sim, se houvesse um aparelho de precisão para medir o prestígio de nossos políticos – digamos, um “prestigiômetro”- com certeza estaria lá em baixo, na escala, a confiança de nossa gente nos políticos do Brasil.
Sim. O triunfo do Senador Renan Calheiros constitue uma “vitória de Pirro”. Na verdade, todos perdemos!
Ainda bem que temos um Supremo Tribunal Federal que parece disposto a pôr cobro à má conduta de quarenta políticos cujos processos acolheu e vai julgar.
Deus tenha misericórdia do Brasil e levante novos políticos, de boa cepa moral e espiritual, para somar-se àqueles poucos que vêm honrando os mandatos que receberam do eleitorado brasileiro.

2 comentários:

Ricardo disse...

É isso, o coquetel da mediocridade foi completo no episódio da votação ultra-secreta da cassação de sua excelência. Seus pares não acompanharam a indicação dos relatores, os votantes mentem quando declinam seus votos à imprensa pois a conta do placar não "fecha", e ainda há essa 1/2 dúzia que se absteve de opinar se o ocupante simplesmente do 3º cargo público mais importante do país deve ou não permanecer senador. As casas legislativas são nada além de um clube de amigos, uma fraternidade de conveniência (e conivência). Vitória de araque de Renan, vitória de Pirro como nos ensina o amado pastor. Obrigado Pr. Irland por mais esse grande texto.

Guiomar Barba disse...

Pr. Irland,

graças a Deus por sua vida e mensagens ricas e nutritivas.
Gostaria apenas de sugerir que mudasse a cor de fundo do blog para que não esforcemos tanto a vista. Creio q uma cor clara beneficiará muito a leitura.
Obrigada por se deixar usar pelo Nosso Paizão.